"Como vai?", perguntou Kusuda.
"Deixei a medicina", respondeu o amigo.
"Ah, sim?"
"Na verdade, agora eu pratico o Zen."
"E o que é o Zen?"-- quis saber Kusuda.
"É difícil explicar..." -- hesitou o amigo.
"E como é possível entendê-lo, então?"
"Bem, deve-se praticá-lo."
"E como faço isso?"
"Em Koishikawa, há uma sala de meditação dirigida pelo Mestre Nan-In. Se quiser experimentar, vá até lá."
No dia seguinte Kusuda dirigiu-se à sala de meditação do Mestre Nan-In. Ao chegar, gritou:
"Com licença!"
"Quem é?" responderam lá de dentro. Um velho de aspecto miserável, que se aquecia junto a um fogareiro próximo ao vestíbulo, dirigiu-se a ele. Kusuda entregou-lhe seu cartão e o velho, após dar uma olhada, disse sorrindo:
"Olá!!! Faz tempo que o senhor não aparece!"
"Mas... é a primeira vez que venho aqui!" - disse Kusuda, surpreso.
"Ah, sim? É a primeira vez? Como está escrito 'Diretor de hospital', pensei que fosse o Sasaki. O que o senhor deseja?"
"Quero falar com o Mestre Nan-in."
"Já está falando com ele!" disse o velho, abrindo um largo sorriso.
"Então o Mestre Nan-in é o senhor?", disse Kusuda meio desconfiado. Esperava alguém mais "venerável".
"Eu mesmo", respondeu o velho, sem dar mostras de resolver a mandar seu visitante entrar. Já meio desanimado e um tanto desdenhoso, Kusuda decidiu falar ali mesmo, de pé, no vestíbulo:
"Eu gostaria que o senhor me ensinasse a praticar o Zen."
O velho olhou para ele e disse:
"Praticar o Zen? O senhor é um médico não? Deve então tratar bem de seus doentes e se esforçar para o bem de sua família, o Zen é isso. Agora, pode ir embora."
Kusuda voltou para casa, sem entender nada. Intrigado com as palavras de Nan-In, três dias depois resolveu visitar novamente o velho Mestre. Nan-In atendeu-o novamente no Vestíbulo.
"Novamente o senhor aqui? O que deseja?"
"Insisto para que o senhor me ensine a praticar o Zen!" - disse Kusuda petulantemente.
"Ora, nada tenho a acrescentar ao que já disse outro dia. Vá embora e seja um bom médico". E fechou a porta.
Dois ou três dias depois, Kusuda novamente voltou a ver o Mestre, pois absolutamente não conseguira entender suas palavras.
"Outra vez aqui?"
"Eu vim porque não consegui entender suas palavras, por mais que pensasse sobre elas."
"Pensando nas palavras é que o senhor não vai entender coisa nenhuma mesmo!" - disse o velho monge.
"Então o que eu devo fazer?" - disse Kusuda, já quase desesperado.
"Procure perceber por si, ora essa! Agora, vá embora."
Mas Kusuda desta vez zangou-se muito e respondeu:
"Por três vezes, embora tenha muitos afazeres, larguei tudo e vim até aqui pedir-lhe para me ensinar o Zen e sempre o senhor me manda embora sem me dar o mínimo esclarecimento! Que espécie de mestre é o senhor, afinal!?!"
"Ah! Finalmente ele zangou-se!", exclamou o Mestre.
"Mas é EVIDENTE!", desabafou o médico.
"Então agora chega de palavreado e seja educado! Faça-me uma saudação."
Encarando fixamente o velho monge, Kusuda reprimiu sua vontade de dar-lhe um soco na cara e inclinou-se em reverência. O Mestre então conduziu-o à sala de meditação e o ensinou a praticar zazen.
Anos depois, Kusuda finalmente entendeu porque o Zen também é cuidar bem dos doentes e esforçar-se para o bem de sua família.
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